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Ambiente Profissional Estigma

O estigma do peso no trabalho: uma cultura corporativa mais inclusiva

As pessoas que vivem com pré-obesidade ou obesidade são muitas vezes vítimas de discriminação e julgamentos negativos devido ao seu peso e estatura, o que é conhecido como estigma do peso. O confronto com este tipo de discriminação pode surgir, todos os dias, nas suas relações pessoais, nas escolas, nos estabelecimentos de saúde e até nos seus locais de trabalho.

5 min. leitura
Pessoa que vive com excesso de peso no trabalho.

26% das pessoas que vivem com obesidade e 31% das pessoas que vivem com obesidade grave referem ter sofrido discriminação no local de trabalho

Cada vez mais, nos locais de trabalho, deve compreender-se que a criação de estigma associado ao peso das pessoas que vivem com obesidade pode afetar o seu desempenho e produtividade. Se está a enfrentar discriminação relacionada com o seu peso no local de trabalho, este artigo fornecerá as ferramentas e os conhecimentos necessários para que possa participar em conversas construtivas com os seus empregadores e colegas. A educação pode ajudar a abordar os equívocos comuns em torno da obesidade que levam ao estigma sobre o peso, e ao auto-estigma, procurando garantir que todos são tratados de forma igual, independentemente do seu peso.

Como identificar o estigma em relação ao peso no local de trabalho?

Existem muitas conceções erradas em torno do peso e da obesidade. Apesar da investigação científica provar o contrário, algumas pessoas continuam a acreditar que viver com obesidade é uma escolha e que pode ser resolvida simplesmente por comer menos e fazer mais exercício. No local de trabalho, isto pode levar os empregadores ou os colegas a fazerem interpretações preconcebidas e injustas sobre as pessoas que vivem com pré-obesidade ou obesidade, como por exemplo, presumir que são menos produtivas, que não têm força de vontade ou que não estão capacitadas para tarefas e atividades fisicamente exigentes.

Estes estereótipos irrefletidos e negativos podem resultar num tratamento desigual para com as pessoas que vivem com esta doença. Por exemplo, em comparação com as pessoas com peso médio, as pessoas que vivem com pré-obesidade ou obesidade têm mais probabilidades de:

  • Salários mais baixos;
  • Uma disciplina mais rigorosa por parte dos empregadores;
  • Menos promoções;
  • Processos de contratação injustos;
  • Rescisão injustificada do contrato de trabalho.

 

Bakorek Z, Bevan S. Obesity Stigma at Work: Improving Inclusion and Productivity. Institute for Employment Studies. 2020.

45% dos empregadores afirmam que é menos provável contratarem alguém que viva com pré-obesidade ou obesidade.

-Bakorek Z, Bevan S. Obesity Stigma at Work: Improving Inclusion and Productivity. Institute for Employment Studies. 2020.

O estigma em relação ao peso e à produtividade no trabalho

Algumas pessoas acreditam que, embora o estigma em relação ao peso possa fazer com que uma pessoa se sinta desconfortável no momento, este possa ser visto como uma forma de “preocupação” que a motivará a perder peso e aumentar a produtividade. Na realidade, isso acaba por gerar um efeito oposto; o estigma sobre o peso tem um impacto negativo na saúde física e mental das pessoas, o que pode afetar consequentemente o seu desempenho e produtividade.

Por exemplo, um ambiente de trabalho hostil em que as pessoas se sentem julgadas ou estereotipadas em função do seu peso pode afetar a sua autoestima. Uma vez afetada a autoestima, as pessoas podem não se sentir confiantes nas suas competências profissionais e podem faltar mais dias ao trabalho, fazer pausas mais longas por motivos de saúde ou mesmo reformar-se mais cedo. Por outro lado, o estigma do peso pode levar a uma situação de presentismo, em que os trabalhadores estão fisicamente presentes no seu trabalho, mas não têm um desempenho tão positivo, possivelmente devido a uma baixa autoestima ou insatisfação profissional.

Além disso, o estigma associado ao peso pode também afetar profundamente a vida pessoal e financeira das pessoas que vivem com pré-obesidade ou obesidade e das suas famílias. Os estudos demonstraram que as pessoas que vivem com pré-obesidade ou obesidade (particularmente as mulheres) ganham entre 8-10% menos do que as pessoas sem obesidade.

25% das mulheres que vivem com pré-obesidade ou obesidade são discriminadas no emprego pelo seu peso e têm uma probabilidade 16 vezes maior de denunciar discriminação no emprego relacionada com o peso em comparação com os homens.

 

Temos de abordar a questão do estigma em relação ao peso e à produtividade no local de trabalho. Os empregadores têm de reconhecer que a criação do estigma sobre o peso pode afetar o desempenho e a produtividade no trabalho. Os colaboradores que são devidamente apoiados, ouvidos e livres do estigma em relação ao peso e de um tratamento desigual têm a capacidade de dar o seu melhor no trabalho.

Prevenir e combater o estigma da obesidade – não tenha medo de educar os outros!

Embora não exista uma solução fácil para lidar com o estigma associado ao peso no local de trabalho, existem várias medidas que podem ser tomadas para promover um ambiente mais justo e inclusivo:

  • A educação é fundamental: Muitas pessoas não compreendem bem o que é a obesidade, o que leva ao estigma associado ao peso na sociedade em geral. Por isso, desafie e questione as ideias erradas das pessoas ao explicar que a obesidade é uma doença complexa e crónica. Todas as pessoas merecem ser identificadas pelas suas qualidades e não pelo seu peso, pelo que parte desta educação deve encorajar a utilização de uma linguagem que coloque a pessoa em primeiro lugar, como “uma pessoa com obesidade” ou “colaboradores que vivem com obesidade” em vez de “uma pessoa obesa” ou “colaboradores obesos”. Se tem interesse em saber mais sobre a linguagem centrada na pessoa, leia o nosso artigo 'Obesidade e linguagem: o peso das palavras quando falamos sobre a doença’.
  • Tolerância zero: Para evitar o estigma sobre o peso e a discriminação, deve pedir aos seus empregadores que implementem uma política de tolerância zero para esses comportamentos e encorajar uma cultura de apoio no local de trabalho, para que os colaboradores se sintam à vontade para denunciar um tratamento desigual e injusto.
  • Disponibilidade de recursos: Peça ao seu local de trabalho que ofereça recursos de apoio para melhorar a saúde e o bem-estar dos colaboradores e garanta que sejam facilmente acessíveis a todos.
  • Políticas inclusivas: As políticas do local de trabalho podem estigmatizar e distanciar os colaboradores que vivem com obesidade. Peça ao seu empregador para envolver as pessoas que vivem com pré-obesidade ou obesidade nas conversas sobre as políticas do local de trabalho para garantir que todos os colaboradores são considerados e respeitados. Quer se trate de uma decisão sobre o vestuário corporativo, escolha do mobiliário ou tipos de actividades de formação de equipas que permitam a participação de todos, as políticas do local de trabalho devem ser orientadas pela compreensão e aceitação.

Embora a mudança de atitudes sociais leve o seu tempo, pode dar o primeiro passo ao educar os outros e defender a igualdade. Iniciar conversas difíceis sobre o peso e a obesidade pode parecer um desafio, mas abre caminho a um ambiente mais inclusivo, respeitoso e produtivo para todos. Não se esqueça: tolerância zero no que diz respeito ao estigma relacionado com o peso!

Referências:
  1. Kirk SFL, Ramos Salas X, Alberga AS, Russell-Mayhew S. Canadian Adult Obesity Clinical Practice Guidelines: Reducing Weight Bias in Obesity Management, Practice and Policy. Disponível em: https://obesitycanada.ca/guidelines/weightbias (Último acesso: Agosto 2023)
  2. World Obesity Federation. Weight Stigma. Disponível em: https://www.worldobesity.org/what-we-do/our-policy-priorities/weight-stigma (Último acesso: Agosto 2023)
  3. Bakorek Z, Bevan S. Obesity Stigma at Work: Improving Inclusion and Productivity. Institute for Employment Studies. 2020. Disponível em: https://www.employment-studies.co.uk/resource/obesity-and-work
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  5. Brown A, Flint SW, Batterham RL. Pervasiveness, impact and implications of weight stigma. EClinicalMedicine. 2022;47:101408. Published 2022 Apr 21. doi:10.1016/j.eclinm.2022.101408
  6. Keramat, S.A. et al. (2020) ‘A longitudinal exploration of the relationship between obesity, and long term health condition with presenteeism in Australian workplaces, 2006-2018’, PLOS ONE, 15(8). doi:10.1371/journal.pone.0238260
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