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Natal Família

Viver com obesidade: os desafios emocionais do Natal

Natal. Deveria ser uma época de alegria, tolerância e celebração. Mas, para quem vive com obesidade, pode transformar-se num campo emocional minado. A azáfama das festas e dos reencontros familiares, por si só, pode ser uma causa potencial de stress e ganhar contornos ainda ainda mais desafiantes. Enquanto outros se preocupam com decorações e presentes, há quem enfrente uma batalha silenciosa. Uma mesa repleta de iguarias tentadoras, olhares indiscretos, os comentários pouco sensíveis de familiares que não se veem há meses, e aquele tio, avó ou primo que insiste em fazer "piadas inocentes" sobre o peso. Esta é uma realidade que muitas pessoas com obesidade vivem ano após ano e o autocontrolo necessário vai muito além de resistir aos doces tradicionais.

Se é o seu caso e se identifica com os desafios emocionais associados ao Natal ou tem familiares ou amigos que vivem com obesidade que precisam de encarar as Festas com mais ânimo e confiança, este artigo é para si. Com a ajuda de Sophie Dias Seromenho, psicóloga clínica, partilhamos estratégias para que este seja um Natal pleno e feliz.

5 min. leitura
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O primeiro desafio do Natal: uma mesa cheia

A época festiva é, normalmente, caracterizada pela abundância de pratos tradicionais que, em muitos casos, se tornam o centro da atenção das reuniões familiares. Este constitui o primeiro (grande) desafio. Como descreve Sophie Dias Seromenho, psicóloga clínica, “a ênfase na comida pode gerar sentimentos de ansiedade e stress nas pessoas que vivem com obesidade, pois há uma pressão social para participar nessas refeições abundantes enquanto, em simultâneo, se lida com preocupações pessoais sobre a gestão do peso e a saúde”.

Assim, gera-se um conflito interno entre o desejo de desfrutar das festividades e a preocupação com a alimentação. “A possibilidade de perder o autocontrolo perante tantas opções pode levar a sentimentos intensos de culpa e de vergonha após a ingestão de grandes quantidades de comida. Isso desperta pensamentos como: ‘os outros estão a julgar aquilo que estou a comer’ ou ‘os outros estão a julgar o meu corpo e o que eu como’.” A psicóloga clínica acrescenta que, além disso, a perda de controlo pode provocar ansiedade e stress. Isso é particularmente desmotivante para quem tem feito esforços para gerir o peso, podendo resultar em frustração e desânimo.
 

O segundo desafio do Natal: os comentários indesejados

A reunião das famílias durante o Natal, apesar de ser um momento esperado para celebrar e fortalecer laços, pode também ser uma fonte de stress e conflitos, especialmente quando surgem comentários indesejados sobre o peso e a aparência, alerta Sophie Dias Seromenho. Este é o segundo desafio. Para as pessoas com obesidade, estes comentários podem ter efeitos psicológicos profundos e negativos, intensificando sentimentos de insegurança e de baixa autoestima. “Quando alguém é confrontado com observações críticas ou julgadoras sobre o seu corpo, pode sentir-se envergonhado ou inadequado, o que afeta a sua autoconfiança.”

Além disso, refere também a psicóloga clínica, as opiniões negativas  podem ter um impacto significativo na saúde mental, contribuindo para o desenvolvimento ou agravamento de depressão e de ansiedade. “Os comentários negativos podem, igualmente, desencadear comportamentos alimentares desordenados. Sentimentos de stress, tristeza ou raiva resultantes de críticas podem levar a pessoa a procurar conforto na comida, iniciando um círculo vicioso de compulsão alimentar e culpa. Isto não só afeta o bem-estar psicológico, mas também dificulta a gestão saudável do peso.” É importante que se preparem mentalmente antes das reuniões familiares e que aprendam a responder a comentários desagradáveis, ensaiando as respostas antes dos eventos em família”. No artigo “Comentários sobre o seu peso no Natal? Saiba como gerir!” vai  encontrar conselhos e respostas assertivas para fazer face a opiniões que não pediu. Não só no Natal, mas também noutras reuniões familiares ao longo do ano.
 

No Natal não são precisas comparações!

A comparação com outros familiares que não vivem com obesidade também pode ser particularmente difícil, exacerbando sentimentos de inadequação e insatisfação corporal. Sophie Dias Seromenho salienta que essas comparações podem levar a uma autocrítica excessiva e prejudicar o bem-estar emocional, levando ao isolamento durante um período que deveria ser de união e celebração. “Diria que estes períodos festivos são como uma faca de dois gumes. Por um lado, a pessoa quer usufruir da refeição; por outro, sabe que vai ser julgada pela quantidade do que está a comer e, consequentemente, pela aparência. Isto leva-a a ter receio destas festividades pela vergonha e culpa que sente", refere. Para evitar estas situações desconfortáveis, a pessoa pode optar por se isolar, perdendo momentos importantes de convívio e reforçando sentimentos de solidão. “É um círculo vicioso pautado por culpa e vergonha. Algo que poderia ser agradável torna-se altamente desagradável e até conflitante para a pessoa com obesidade”, afirma a psicóloga clínica.
 

Equilíbrio e autocuidado

Para lidar com sentimentos de culpa e/ou de vergonha, Sophie Dias Seromenho destaca a importância da adoção de uma abordagem de equilíbrio e autocuidado. “É essencial reconhecer que uma alimentação saudável pode incluir momentos de indulgência. Permitir-se desfrutar das iguarias natalícias, sem exageros, faz parte de uma relação positiva com a comida. A gestão do peso deve ser pensada durante todo o ano para que as festividades não sejam um momento de stress, mas sim de desfrutar. Praticar a alimentação consciente pode ser uma boa estratégia. Isto implica comer devagar, saborear cada garfada e prestar atenção aos sinais de saciedade do corpo.” Estabelecer expetativas realistas durante as Festas é igualmente importante. O Natal é uma época especial que envolve tradições e convívio, e é natural que os hábitos alimentares se alterem temporariamente.

“Aceitar esta flexibilidade pode contribuir para uma experiência mais positiva. Por fim, se os sentimentos de culpa persistirem, pode ser benéfico procurar apoio profissional. Um profissional de saúde especializado pode ajudar a desenvolver estratégias personalizadas para gerir a relação com a comida ao longo do ano inteiro e promover o bem-estar emocional”, aconselha a psicóloga clínica.
 

 

Dê o primeiro passo

Gerir o peso não tem de ser um caminho solitário




Enfrente os desafios emocionais do Natal sem culpa!

Por fim, Sophie Dias Seromenho deixa uma mensagem de Natal dirigida a todos aqueles que vivem com obesidade: “Lembre-se de que merece desfrutar das celebrações tanto quanto qualquer outra pessoa. Valorize as conexões emocionais e os momentos de alegria que o Natal proporciona. Não precisa e nem deve justificar nada sobre o seu peso ou aparência a ninguém. Não deixe que esses comentários dominem as conversas. Cuide de si mesmo com carinho e respeito, e saiba que o autocuidado é um ato de amor próprio. Não deixe que comentários ou situações externas diminuam o seu valor, pois o peso é algo reversível e não define o seu valor enquanto ser humano. Saiba que é mais do que um número na balança, e o seu bem-estar emocional é fundamental. Aproveite o Natal sem culpa, e cuide de si ao longo de todo o ano.”
 

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