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Viver com Obesidade

Como Alice Ruivo alcançou o equilíbrio: “Não acredito em estratégias isoladas para gerir o excesso de peso”

Tem vivido num desafio constante para contrariar os ponteiros da balança. Atualmente, Alice Ruivo não tem dúvidas: com a adoção de estratégias multidisciplinares - desde a cirurgia bariátrica ao apoio psicológico, gestão de stress, padrões de sono adequados, alimentação e exercício físico - foi possível obter resultados equilibrados e mais duradouros.

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Como Alice Ruivo alcançou o equilíbrio

Foi na pré-adolescência, cerca dos 12/13 anos, que comecei a ter excesso de peso. Na altura, essa situação não foi entendida como um problema, até porque na minha família era muito bem visto eu ser “gordinha”, era um sinal de saúde.

Na escola a situação era diferente e sentia alguma discriminação por parte dos outros meninos, mas como era uma criança muito alegre, usava o humor para lidar com os comentários e ia gerindo este tipo de situações. O humor é, aliás, na minha experiência pessoal, uma estratégia frequentemente usada pelas pessoas com obesidade para desarmarem os outros e lidarem com comentários menos lisonjeiros.

Foi quando cheguei aos 17/18 anos, já na universidade, que o excesso de peso passou a ser um desafio. Tornei-me mais vaidosa e percebi que havia roupas que não conseguia vestir em comparação com as minhas amigas. Isso deixava-me triste. Nessa altura, iniciei as dietas: experimentei a dieta das cores, a dieta da sopa, enfim, fiz dietas de todos os estilos e feitios. Ao mesmo tempo, comecei a consultar os médicos da “moda” e a fazer terapêuticas para emagrecer. Os resultados apareciam e eu sentia-me muito bem.

Na minha maior perda de peso, cheguei aos 55 quilos. Porém, quando deixava de fazer aquela “dieta mágica” ou parava de tomar medicação, voltava aos padrões antigos e recomeçava a engordar. O ganho de peso não era imediato e podia até passar um ou dois meses sem aumentar logo de peso. No entanto, quando se tornava visível, esse reganho era bastante rápido e muito mais notório. Sempre que voltava a engordar, ganhava mais quilos do que aqueles que tinha perdido.
Os efeitos destas dietas repercutiram-se no meu corpo: no início era uma “gordinha” razoavelmente harmoniosa, mas de cada vez que perdia peso e voltava a engordar, sentia-me mais “disforme”.

Apesar de estar a fazer um curso na área da saúde, não dava muita importância às consequências do excesso de peso. Na verdade, não tinha consciência de que estava a prejudicar o meu corpo e a minha saúde futura. 

Forte impacto na autoestima

98 quilos. Este foi o peso máximo que atingi – um valor elevado para quem tem apenas 1 metro e 60 centímetros de altura. A partir deste patamar, deixei de me pesar, pelo que até é possível que tenha ultrapassado este valor. Nessa altura, estava numa fase diferente: tinha sido mãe e encontrava-me numa etapa profissional mais madura. Porém, os problemas associados ao excesso de peso permaneciam na minha vida, com um forte impacto na autoestima.

Sendo uma pessoa que tem um grande autocontrolo e, de certa forma, com uma imagem a “defender”, sabia que as pessoas à minha volta percebiam quando estava a atravessar uma fase mais difícil, porque começava a engordar e a ouvir comentários como “estás mais gordinha”, entre outros. Para quem já não se sentia bem porque a roupa já não lhe servia, era como se estivesse a levar com uma “machadada” adicional na autoestima. Sentia-me muito pior.

Neste contexto, há oito anos, decidi submeter-me a uma cirurgia bariátrica (gastrectomia em sleeve), mas não consegui perder o peso desejado. Na minha opinião, deveria ter ficado entre os 65 e 70 quilos e nunca alcancei este patamar: desci até aos 72 quilos – o peso que mantenho ainda hoje.

Apesar de continuar com um peso acima do ideal para a minha estatura, consegui aceitar a situação com apoio psicológico, em conjunto com a adoção de diversas estratégias. Neste processo, a psicoterapia foi, sem dúvida, muito importante para mim.

Atualmente, a minha principal preocupação é tentar ser saudável, porque o excesso de peso a partir dos 50 anos tem uma série de constrangimentos em termos de carga óssea e da saúde cardiovascular – quando há excesso de peso surgem, normalmente, problemas de hipertensão, o que é o meu caso. Encaro viver com obesidade como uma questão de saúde e também já não recorro a estratégias tão drásticas como fiz no passado. Só que o desafio para “contrariar” os ponteiros da balança continua bem presente. Tento não ultrapassar os 72, 73 quilos. Quando tal acontece e chego aos 75 quilos, para mim é um alerta e procuro rapidamente tomar medidas, como fazer ajustes na minha alimentação.

Conselhos pessoais para uma gestão de peso mais sustentável após cirurgia bariátrica

Para a aceitação e controlo do meu peso contribuiu o facto de ter adotado algumas estratégias que, no meu caso, são eficazes. Uma delas foi ter uma nutrição adequada e a introdução de uma componente de exercício físico na minha rotina. Isto não significa que a pessoa tenha de ir ao ginásio todos os dias, mas não podemos ser sedentários.

Em simultâneo, o meu conselho pessoal é que exista uma estratégia de gestão de stress que pode, por exemplo, ser conseguida através da meditação. Haver apoio psicológico é, na minha opinião, muito importante para percebermos aquilo que nos está a fazer descarrilar, para mudarmos falsas crenças, adaptarmo-nos às circunstâncias e evitar que nos penalizemos. Porque este ganho sistemático de peso é quase como uma automutilação. Por último, e não menos importante, acho que é fundamental manter os padrões de sono adequados.

Se eu tiver todos os pilares em equilíbrio, sinto-me bem e facilmente consigo autorregular-me. No entanto, se um destes pilares se desequilibra – ou porque estou com excesso de trabalho e já não consigo ir ao ginásio ou não consigo dormir como dormia – sinto que todos os outros começam a descarrilar, mais facilmente começo a comer compulsivamente e torna-se difícil gerir esses períodos.

A importância da adoção de estratégias combinadas

Vencer o desafio da obesidade, no meu caso, implica o controlo e o acompanhamento de um conjunto diversificado de fatores. Por exemplo, as hormonas do apetite devem estar equilibradas e, para isso, o exercício físico pode ajudar. Por outro lado, com a menopausa, começam a faltar os estrogénios e é necessário conseguir um equilíbrio para que a pessoa se sinta bem. O excesso de peso ou a obesidade são questões de saúde complexas que não devem ser encarados de ânimo leve.

Por estas razões, não acredito em estratégias isoladas. Não acredito, por exemplo, que através apenas da alimentação ou só com exercício físico se atingem resultados a longo prazo. Acho que têm de ser estratégias multimodais. Para ser algo duradouro, deve existir uma alteração de estilo de vida e isso não é possível com dietas muito restritivas, porque as pessoas não vão conseguir manter esse tipo de alimentação até ao final da sua vida. Penso que seria fundamental as pessoas com excesso de peso e obesidade terem um acompanhamento e aconselhamento multidisciplinar.

Quanto mais cedo conscencializarmos estas questões, melhor. E não apenas pelo lado estético: é, sobretudo, por uma questão de saúde. Podemos ser muito bons cognitivamente, mas se não tivermos um corpo que sustente o nosso pensamento, o nosso intelecto, não conseguimos viver.

Portanto, temos de cuidar muito bem do nosso corpo. Ele é a nossa casa.

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