Não há soluções rápidas e milagrosas para manter o peso após uma
dieta e evitar o famoso efeito ioiô, bem conhecido daqueles que vivem
com excesso de peso ou obesidade. A boa notícia é que os médicos podem
ajudá-lo neste caminho.
Quem vive com excesso de peso ou obesidade conhece bem as duas
batalhas que tem de travar para chegar ao seu peso saudável: a
primeira é perder peso; a segunda é mantê-lo. Se perder peso é
relativamente alcançável no curto prazo através de diferentes
estratégias, mantê-lo é uma tarefa muito mais complicada. São
os estudos científicos que o comprovam, mostrando que aquilo a que se
chamou de efeito ioiô é, afinal, o desfecho mais comum: depois de uma
dieta, a maioria das pessoas com obesidade acaba por
recuperar o peso perdido.
Então, como manter o peso depois de uma dieta e contrariar estas
estatísticas? A resposta parece estar no acompanhamento a longo prazo.
É que, sendo a obesidade uma doença crónica, reconhecida enquanto tal pela Organização Mundial da
Saúde, a gestão do peso deve, também ela, ser feita de forma continuada.
Antes de aprofundarmos a questão que dá título a este artigo,
importa deixar um alerta: mesmo sabendo de antemão as dificuldades que
tem pela frente, o processo compensa. O consenso médico aponta para
que os benefícios para a saúde comecem quando se perde cerca de 5% do peso corporal inicial. Vários estudos já demonstram, por exemplo, como
as pessoas com obesidade conseguiram reverter a diabetes depois de
perderem peso. Trata-se, portanto, de uma questão que vai além da
estética: aqui fala-se de saúde e qualidade de vida.
Por que é tão difícil manter o peso depois da dieta?
Os especialistas sabem que num processo de perda de peso as pessoas
com obesidade ou excesso de peso normalmente seguem o seguinte padrão: perda de peso numa primeira
fase, seguida de uma estagnação onde se atinge um plateau e, no
final, um progressivo reganho de peso.
Entre os fatores que explicam a dificuldade em manter o peso depois
de uma dieta, um dos principais é mesmo a biologia. Quem o explica é
David Macklin, diretor médico do Programa de Gestão de Peso da clínica
Medcan, em Toronto.
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“A principal razão para o reganho de peso é a biologia. O cérebro
defende-se contra a perda de peso por estar a seguir um mapa antigo.
Os nossos antepassados não perdiam peso para ficarem elegantes para um
casamento ou para fazerem boa figura no verão. Na altura, quando
perdiam peso devia-se a doença ou por interrupções na disponibilidade
de alimentos. De forma simplista, defender-se contra a perda de peso
era defender-se contra a morte.”
-Excerto do artigo “Reasons For Weight Regain” de David MacklinPartilhar isto
Como explica Macklin, quando se inicia um processo de emagrecimento o
cérebro reconhece a perda de peso, defende-se dela e promove o reganho
através de uma combinação de dois processos: por um lado, verifica-se
um aumento do apetite que predispõe a pessoa a ingerir mais calorias;
e por outro, o metabolismo abranda. O abrandamento do metabolismo em
resultado de uma dieta pode, inclusive, persistir durante anos, apresentando-se como um obstáculo
duradouro à manutenção de um peso saudável.
Mais do que o abrandamento do metabolismo, o aumento da sensação de
fome sentida pelas pessoas que fazem dieta parece ser mais importante
para explicar a estagnação do peso. Isso
acontece porque as dietas parecem provocar alterações
nos níveis das hormonas que ajudam a controlar o apetite: após a
perda de peso, os cientistas perceberam que há um aumento da chamada
hormona da fome (grelina) e uma redução das hormonas da saciedade
(como a PYY, GLP-1 e leptina), situação que favorece a recuperação de peso.
David Macklin aponta ainda outras razões que explicam a dificuldade
em manter o peso saudável depois de uma dieta, tais como o facto de as
pessoas seguirem regimes alimentares que se revelam insustentáveis
para o seu estilo de vida, as alterações no ambiente em que estão
inseridas (por exemplo, se a pessoa passou a trabalhar a partir de
casa pode estar mais sujeita a cair em tentação), a fraca adesão a
terapêuticas farmacológicas para a obesidade, a desmotivação perante
as oscilações de peso ou o papel da fadiga, do stress ou da falta de
sono como fatores que desestabilizam as pessoas e as fazem perder o foco.
No entanto, apesar de se saber que se está perante uma doença
explicada essencialmente por fatores biológicos, a
maioria das pessoas com obesidade ou excesso de peso (81%)
considera que a perda de peso é da sua inteira responsabilidade,
tardando em procurar ajuda.
Por isso, quando se fala em perder peso e mantê-lo, o primeiro
passo é aconselhar-se com um médico que tenha
experiência em obesidade. Desfazer o tabu é essencial para desbloquear
um caminho para uma vida mais saudável.
Gestão do peso: um processo contínuo
A obesidade está associada a um desequilíbrio energético prolongado
entre a energia que ingerimos e a energia que gastamos. No entanto, as
causas que explicam este desequilíbrio são complexas e variam de
pessoa para pessoa, sendo que algumas atuam fora da nossa consciência
e do controlo da vontade.
Homeostático, isto é, o comer para sobreviver (que inclui os
reguladores hormonais que estimulam ou inibem o apetite);
Hedónico, isto é, o comer por prazer (ligado à recompensa
cerebral e à satisfação que se obtém através da ingestão de
alimentos);
Cognitivo, isto é, a decisão de comer
(relacionado com o comportamento da pessoa, que também é
influenciado pelo feedback que recebe dos outros - por
exemplo, via redes sociais - e do ambiente em que se insere).
É desta interação que resultam as decisões que repetimos diariamente.
“Decidimos várias vezes por dia quando, onde, o quê, com quem e quanto
comemos. Este complexo comportamento alimentar é determinado pelas
interações dinâmicas entre os processos homeostático, hedónico e
cognitivo”, concluíram os investigadores Kevin D. Hall, Ross A.
Hammond e Hazhir Rahmandad num artigo publicado na Revista Americana de Saúde Pública.
Desta forma, a gestão do peso a longo prazo é um processo desafiante
devido às interações existentes entre a biologia, o comportamento e o
ambiente obesogénico, ou seja, que promove ou propicia a obesidade.
É por essa razão que a combinação de várias terapias e de abordagens
que dão resposta aos múltiplos mecanismos envolvidos no controlo do
peso parece ser a forma mais eficiente de gerir a obesidade, segundo o
grupo de investigação da Universidade
Estatal do Louisiana. Mais: o tratamento da obesidade requer uma
atenção clínica contínua.
Nesse sentido, elencamos algumas das abordagens usadas para o
controlo do apetite e que, por isso, são usadas para quem quer ser
bem-sucedido na tarefa de manter o peso depois de uma dieta: as
mudanças do estilo de vida, a terapêutica farmacológica para a
obesidade e a cirurgia.
O papel da terapêutica farmacológica e da cirurgia
No entanto, nem sempre a alteração do estilo de vida é suficiente
para a perda e manutenção do peso: Neil Gesundheit, professor na
Universidade de Stanford, assinalou no artigo “Gestão do peso em doentes com excesso de peso e
obesidade: preencher as lacunas existentes no tratamento” que as
modificações intensivas do estilo de vida que enfatizavam o papel da
dieta e do exercício físico pareciam contribuir para apenas uma
redução entre 4% a 7% do peso corporal.
É por essa razão que é importante que o tratamento seja feito de
forma mais abrangente. Assim, além de atuar na parte consciente do
cérebro que controla o apetite, é importante incidir o tratamento na
parte inconsciente que o regula. É neste processo que entram as
terapêuticas farmacológicas para a obesidade que, quando usadas em
combinação com alterações do estilo de vida, demonstraram ser capazes
de potenciar uma maior perda de peso do
que quando as pessoas só alteram o seu estilo de vida.
Já quanto à cirurgia bariátrica, esta revelou também ser eficaz para o tratamento da obesidade. Ao
atuar na redução do apetite e na quantidade de alimentos que a pessoa
ingere e absorve, a cirurgia bariátrica produz alterações metabólicas
e hormonais comprovadas
que ajudam, inclusive, a evitar a recuperação do peso.
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misalignment between perception, reality and actions in obesity.
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obesity-related outcomes in 0.5 million people: evidence from a UK
primary care database. Int J Obes 2021. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33658682/
Depois de uma dieta: o peso está em alta, a autoestima está em baixo
“Dieta Milagrosa” “Perca o peso que quiser enquanto come tudo o que
deseja”... Veja o peso derreter”. Onde quer que vamos, somos
bombardeados com mensagens sobre formas fáceis de perder peso.
Perder peso: é uma questão de força de vontade ou de biologia?
Para perder peso, será necessário comer menos e mover-se mais. Mas
muitos aspectos das nossas escolhas alimentares e da nossa actividade
física são determinados por sistemas biológicos complexos que estão para
além da nossa força de vontade.
Como as hormonas controlam o nosso apetite e o comportamento alimentar
A circular no sangue estão mensageiros químicos que ajudam a controlar o
apetite. A compreensão de como funcionam pode esclarecer o papel da
biologia no controlo do peso...
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