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HORMONAS OBESIDADE COMPREENDER O PESO

Obesidade na adolescência: prevenir cedo para viver melhor

Os estudos não mentem: um adolescente com obesidade tem uma maior probabilidade de se tornar um adulto com a mesma doença. Reconhecer a obesidade na adolescência, observando a saúde física, mental e social, é uma parte essencial da prevenção para garantir uma vida adulta saudável. Adolescentes, familiares e médicos devem estar alerta para agir aos primeiros sinais da doença.

Woman speaking to doctor

A puberdade é um período de transição importante no desenvolvimento de um adolescente. De entre inúmeras transformações, algumas naturais, como a maturação cerebral e, com ela, o desenvolvimento cognitivo, ou ao nível do processo de tomada de decisão, por exemplo, podem surgir outras que comprometem o saudável desenvolvimento do jovem adulto e o seu bem-estar. Falamos do excesso de peso e da obesidade.

Perante um adolescente que apresenta os primeiros sinais de excesso de peso ou obesidade, julgar e/ou castigá-lo ou mesmo ignorar ou negar a questão será sempre a pior via para uma vida saudável, presente e futura. Esta preocupação torna-se ainda mais relevante quando, como constata um estudo da Federação Mundial da Obesidade, um em cada três adolescentes tem dificuldade em falar honestamente sobre o seu peso com os pais (37%), sendo a resistência ainda maior quando se sugere falar com o médico (69%).

À dificuldade em abordar o tema e ao impacto na autoestima somam-se comorbilidades como a doença renal crónica, a hipertensão arterial ou complicações ortopédicas. Um círculo vicioso que não se extingue nem atenua com a idade: adolescentes com obesidade têm uma probabilidade elevada de se tornarem adultos com a mesma doença, o que, no limite, impacta fortemente a qualidade de vida deste segmento da população.

Na Europa, o Relatório da Obesidade da Região Europeia da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta para um cenário preocupante:


Um terço das crianças tem excesso de peso
Uma em cada três crianças (29,6% dos rapazes e 29,7% das raparigas) tem excesso de peso; destas, mais de 10% têm obesidade. Uma percentagem que tem vindo a aumentar e traz à luz a gravidade desta tendência e de outras que dela decorrem.


Um quarto dos jovens não reconhece ter excesso de peso
Cerca de 24% destes jovens não reconhecem ter excesso de peso – por exemplo, por viverem num seio familiar em que a obesidade é regra e não exceção e que, por isso, desvalorizam o risco de desenvolvimento de obesidade . Neste caso, a ajuda é ainda mais necessária, sendo importante que se coloquem à disposição do jovem as ferramentas necessárias para lidar com a patologia crónica.

 

Quais as consequências da obesidade na adolescência?

A adolescência é a altura em que se definem comportamentos que irão estabelecer bases para a vida adulta, pelo que a construção de hábitos saudáveis pode ajudar a estabelecer um caminho em direção ao bem-estar físico e mental do futuro adulto. Em primeiro lugar, os adolescentes com obesidade, e também quem os rodeia, devem ter presente que a obesidade é uma doença crónica gerível, com consequências físicas e mentais que não devem ser desvalorizadas, independentemente da idade.

Durante o processo de perda de peso, e até antes deste ser iniciado, é essencial que se forme uma rede de apoio ao adolescente. Lidar com o próprio peso de forma isolada acaba, muitas vezes, por gerar uma internalização do estigma, ignorando as inúmeras possíveis causas que a doença tem – genéticas, psicológicas, ambientais ou socioeconómicas –, como indicado pelo World Obesity Atlas.

O estigma internalizado pode trazer, segundo a plataforma World Obesity, consequências nocivas, quer emocionais, quer sociais. Emocionalmente, a baixa autoestima, as alterações no humor, a ansiedade e a depressão são alguns dos possíveis resultados, que podem ainda ser agravados pela perceção negativa do olhar do outro. Um somatório de emoções negativas que conduz ao enfraquecimento dos laços de amizade, tão importantes na puberdade e adolescência, à fuga das relações sociais e ao isolamento.

A importância da comunicação

Como pode, então, um adolescente, um familiar ou um médico abordar o tema do peso e da obesidade na adolescência, de forma eficaz?

Se, da parte do adolescente, a vergonha pode desencorajar o começo desta conversa, por vezes familiares e médicos encontram outros obstáculos que impedem o aconselhamento precoce.

Aqui ficam algumas sugestões para ultrapassar as primeiras barreiras:

Nunca julgue o adolescente com obesidade
Esta é a regra de ouro. Quer a via do diálogo seja aberta pelo adolescente com obesidade, pelos entes mais próximos ou por um médico, é importante que nunca se julgue o paciente e que se mostre apoio e compreensão. O tema deve ser gerido com empatia, evitando-se a culpa que, no limite, poderá levar ao surgimento de distúrbios do comportamento alimentar.

Fale do presente, mas também do futuro
Os hábitos adquiridos na adolescência são muitas vezes replicados na idade adulta. Nesta conversa, é essencial esclarecer que a intervenção precoce melhora a taxa de sucesso do processo da gestão saudável do peso, evitando complicações futuras.

Motive sem pressionar
Está provado que os adolescentes com excesso de peso ou obesidade têm um maior risco de desenvolver diabetes tipo 2 ou doenças cardiovasculares, bem como outras doenças, como seja a depressão. Impõe-se, por isso, uma abordagem holística que reforce as competências emocionais e físicas, repercutindo-se positivamente por toda a vida.

Ensine o autocuidado
As intervenções que alcançam melhores resultados são aquelas que são precoces, integram uma rede de apoio para ultrapassar obstáculos e em que se traçam objetivos personalizados e focados em ganhos de saúde.

 

“Ken tem vivido com a obesidade desde criança. Durante a sua infância, os médicos tentaram perceber a razão do seu peso, que continuou a aumentar para lá da adolescência. Olhando para trás, Ken reconhece os comportamentos e os ambientes pouco saudáveis: trabalhava até tarde, comia comida takeaway e consumia bebidas alcoólicas frequentemente. Em 2000, no seu 40.º aniversário, decidiu mudar. Uma enfermeira encorajou-o a procurar ajuda numa clínica de obesidade. Foi a primeira vez que a sua obesidade foi tratada com seriedade.”

-Excerto de testemunho incluído no Relatório da Obesidade 2022 (OMS)

Para intervir precocemente, esteja atento

É fundamental encontrar um médico que compreenda a obesidade na adolescência e que, com o doente, trace um plano conjunto que resulte numa mudança consistente de estilo de vida, recorrendo a abordagens terapêuticas eficazes e adequadas, quando aplicável e aconselhado pelo profissional de saúde. Medir, encorajar e festejar a conquista de cada objetivo pode ser uma fórmula de sucesso a longo prazo.

Referências

PT24OB00024

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