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Viver com Obesidade

O “clique” de Miguel Paiva: “Tinha que fazer alguma coisa por mim”

Foi há dois anos, depois de ter dois Acidentes Isquémicos Transitórios (AIT) e de se ter cruzado com a história de Marisa Oliveira, (Presidente da Associação Portuguesa dos Bariátricos (APOBARI)), que o pensamento de Miguel Paiva, de 48 anos, se alterou completamente. Incentivado pelo objetivo de estar presente para acompanhar o crescimento do seu filho de 9 anos, contactou  a APOBARI, marcou uma consulta e foi submetido a uma cirurgia bem sucedida. Desta vez, tinha mesmo de mudar de vida e vencer a obesidade.

3 min. leitura
Pediatra Carla Rêgo

Não posso dizer que fui uma criança magra, porque nunca fui. O meu peso esteve sempre acima do normal em relação ao dos amigos da minha rua. Tive sempre como alcunha “o gordo” ou “o badocha”. Comecei a fazer musculação aos 16 anos e melhorei bastante.

Com 19 anos, iniciei a vida profissional como comercial e foi o descalabro total. Comecei a engordar e deixei de fazer musculação aos 21 anos. Desde aí, foi sempre a engordar até aos 145 quilos, mesmo tendo  feito muitas tentativas de dietas e muitos “disparates”.

Atualmente, tenho um filho com 9 anos e sabia que precisava de mudar também por ele. Já não conseguia acompanhá-lo em determinadas atividades.

Eu sabia que estava gordo, mas não me achava assim tão gordo. Continuava e não reconhecia que estava na altura de mudar.

A reviravolta

Foi há dois anos que comecei a achar que já estava mesmo a comer de uma forma muito compulsiva. Já não comia só com a boca, comia também com os olhos. Tive dois Acidentes Isquémicos Transitórios e foi aí que ganhei consciência de que, de facto, já estava numa situação de comer só por comer. Programava as horas para comer mal. Programava o relógio para me levantar à 1h da manhã para comer e beber cafés. Estava a entrar numa espiral de loucura.

Tudo mudou quando, num dia, cheguei a casa e estava a dar uma reportagem sobre a APOBARI e sobre a história da Marisa num canal que não costumo ver. Até hoje, não sei a razão pela qual a televisão estava ligada naquele canal.

Lembro-me de pensar que aquelas pessoas pareciam ter sido atropeladas por um cilindro daqueles que  utilizam para colocar alcatrão nas estradas. Achava que era humanamente impossível alguém que antes pesava tanto, ter perdido tanto peso.

No entanto, revi aquela reportagem três ou quatro vezes durante o fim-de-semana. É algo que ainda hoje não consigo explicar. Tinha de fazer alguma coisa por mim, não aguentava mais, e a verdade é que alguma coisa fez com que decidisse contactar a associação. Foi uma junção de tudo e naquele momento deu-se o clique.

Na segunda-feira liguei para a APOBARI, falei com a Marisa, marquei uma consulta (tudo isto em dezembro) e pouco tempo depois tinha já a cirurgia marcada para o dia 13 de janeiro. Ainda pensei que não iria conseguir até lá – cheguei a ligar à Marisa na última semana do ano a dizer que ia desistir. Estava a entrar em stress e a comer cada vez mais. Era a despedida. Mas consegui não desistir, fiz todos os exames que o médico prescreveu e lá fui eu fazer o mini bypass gástrico.

Pediatra Carla Rêgo

O resultado

Uma semana e meia depois, quando me pesei, tinha menos 10 quilos. Agora, três meses depois, peso menos 40 quilos. Foi uma mudança enorme - vestia o 5XL e agora já consigo usar as camisolas que me foram oferecidas por familiares que tinham sempre a expectativa de que um dia viesse a emagrecer.

Agora já consigo olhar para o espelho da casa de banho, que é enorme, algo que antes não conseguia fazer. Nem acendia as luzes todas por vergonha. Hoje, olho-me ao espelho e gosto de me ver, a minha autoestima melhorou bastante. Sinto-me uma pessoa completamente diferente e o meu objetivo é chegar aos 85 quilos.

Mesmo em termos profissionais senti a diferença. A verdade é que os clientes  acabam por escolher trabalhar com a pessoa que tem a imagem mais cuidada e eu sentia a discriminação devido ao meu peso. Mas não ficava por aqui: sentia que todos olhavam para mim e faziam comentários sempre que ia a uma pastelaria comer um bolo ou pedia uma dose grande só para mim num restaurante. Senti sempre isto na minha vida.

Mas a mudança mais importante prende-se com o meu filho. O meu principal objetivo de vida era conseguir criar o meu filho, que tem apenas 9 anos.

Foi um caminho difícil, sendo que a principal dificuldade foi o facto de ter de mudar os hábitos alimentares, sobretudo na quantidade. Só pensava: como é que eu me vou adaptar? Comia e bebia tanta coisa e como é que agora o iria fazer em quantidades tão pequenas? É aqui que começa o papel da nutricionista, que fez um plano com várias fases e me tem acompanhado nos últimos tempos.

Nada disto é possível sem um médico e uma equipa bem preparada para lidar com todos os desafios que este processo envolve. O médico tem um papel fundamental - é quem nos vai explicar tudo o que se vai passar, de forma a compreendermos todos os passos que vamos dar e tirarmos todas as dúvidas que surjam.

No pós-operatório, tenho tido um acompanhamento bimensal e, de facto, tudo tem funcionado muito bem. O meu médico e toda a equipa têm sempre uma preocupação em tentar perceber se tenho alguma dúvida e isso tem sido fundamental para a recuperação.

Não estou nada arrependido e aconselho a todos os homens com excesso de peso ou obesidade que procurem apoio médico já amanhã. Eu já o devia ter feito há muito mais tempo.

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