Sou enfermeira e sempre trabalhei em cuidados intensivos neonatais e
pediátricos, em urgência de pediatria e em obstetrícia, sítios que
precisam de pessoas ágeis. Nunca deixei que o meu peso prejudicasse o
meu trabalho e, devido a isso, também nunca senti represálias devido
ao meu peso, sendo que as duas únicas experiências negativas que
advieram do meu excesso de peso dizem respeito à altura em que me
candidatei à universidade e quando estava a ser tratada com recurso a
dietas por um médico em específico.
No entanto, mesmo não sendo percetível para os outros, a pouco e
pouco, comecei a sentir alguma dificuldade ao realizar as tarefas
habituais. Lembro-me até de dizerem que parecia uma bailarina russa,
referindo-se ao bailado russo com pessoas com excesso de peso.
Continuava a mexer-me bem, mas sentia-me mais cansada.
Foi em 2004 que descobri pela primeira vez a existência de
cirurgias, através de um folheto da ADEXO. Decidi de imediato que
precisava de saber mais sobre estas e comecei a minha pesquisa.
Procurei um cirurgião e falei com ele sobre esta possibilidade. Nesta
altura, comecei a perceber que as dietas nunca iriam resultar e
acabava sempre por sentir que o meu peso se comportava como
um yo-yo, ora subia, ora descia.
Já estava cansada. Cansada de falar com endocrinologistas, cansada
de falar com todos os médicos conhecidos e aclamados e de nada
resultar. A verdade é que perdia peso, os tratamentos resultavam, mas
a partir do momento em que parava a dieta, voltava a ganhar peso. E o
reganho era ainda maior do que o peso perdido.
Em 2005 fiz finalmente a minha primeira cirurgia, a colocação de uma
banda gástrica. Na altura resultou e eu adaptei-me muito bem. Consegui
chegar ao meu peso atual, 79 quilos. Decidi fazer a cirurgia por uma
questão de saúde, principalmente porque tinha dores ósseas e problemas
respiratórios. Depois, comecei a pensar nos meus filhos. Se
continuasse a este ritmo não os iria ver a crescer, não ia conseguir
brincar com eles. Queria o melhor para eles, queria estar na vida
deles. Tinha de colocar um travão nisto.
No entanto, seis anos depois, em 2011, a banda deslocou-se, fez-me
uma lesão no esófago e tive de voltar ao bloco operatório para a
retirar, acabando por fazer um bypass gástrico. Infelizmente e devido
ao meu histórico familiar, a minha anemia ferropénica começou a
agravar-se, sendo que comecei ainda a perder outras vitaminas, sais
minerais e até proteína. Devido a isto, em 2015, tive de reverter o
meu bypass para uma sleeve e a partir daí tudo estabilizou.
Agora sinto-me mais motivada para fazer atividades como exercício
físico ou até comprar roupa. Já fiz inclusivamente as cirurgias
reconstrutivas e claro que me sinto melhor. Tenho uma forma diferente
e mais satisfatória de conviver com o meu corpo, olho-me ao espelho e
vejo-me de outra maneira.
Atualmente, tenho 79 quilos e a minha decisão mudou não só a minha
vida, mas também o rumo da vida dos meus filhos. O meu filho cresceu
de forma saudável e a minha filha sujeitou-se a uma cirurgia de sleeve
aos 24 anos para não seguir as pisadas da mãe.