Numa consulta com um paciente que vive com obesidade, mas procurou o
médico por outro motivo, é muito importante a abordagem que se faz do
tema a essa pessoa: não estigmatizar ou afastar o paciente é crucial
para que se crie, à partida, uma boa relação médico-paciente, que
surta os efeitos pretendidos.
A endocrinologista explica que, para estes casos, está preconizada a
abordagem dos 5A’s: ask (perguntar), assess
(avaliar), advise (aconselhar), agree (chegar a acordo
e apoiar), assist (acompanhar):
- iniciar sempre com um pedido de permissão para falar sobre
o assunto (ask) e explorar se a pessoa com obesidade
está preparada para a discussão;
-
avaliar (assess) o grau de obesidade, não apenas o
peso e índice de massa corporal, mas como o organismo está em termos
de doença, funcionalidade física e mental, e quais os
gatilhos/causas, complicações e barreiras ao tratamento;
-
aconselhar (advise) a pessoa com obesidade, acerca dos
riscos da doença, discutir os benefícios da perda de peso e as
opções de tratamento;
-
chegar a um consenso (agree) realístico, focado em
ganho de saúde e de qualidade de vida (em vez de estabelecer
objetivos numéricos);
-
acompanhar (assist) a pessoa com obesidade, ajustando
o tratamento, aconselhando, referenciando, envolvendo outras áreas e
especialidades, personalizando os cuidados e adaptando a
terapêutica, porque a vida e as condições mudam, os gatilhos mudam e
as pessoas também mudam.
O foco na pessoa através do diálogo e de uma abordagem
personalizada, que a fará sentir-se envolvida e lhe dará autonomia e
independência, pode trazer “resultados muito melhores e mais
gratificantes”. “Estamos a dar autonomia e independência ao nosso
paciente, na gestão de uma doença crónica, sobre a qual não tem culpa,
mas sobre a qual pode tomar decisões mais conscientes, informadas e
estruturadas”, esclarece Joana Menezes.
E porque “uma dupla médico-paciente bem articulada e funcional
resultará muito melhor e responderá às necessidades que forem surgindo
ao longo do tempo”, o apoio deve ser esclarecedor e realista,
antecipando obstáculos que possam surgir, evitando situações de ioiô,
“tão frequentes e traumatizantes para os pacientes”.
Sabendo o que é a obesidade, conhecendo os possíveis entraves à
gestão do peso e as suas causas multifatoriais, é importante colocar
os olhos num só objetivo: “ser-se saudável, atingir um peso adaptado a
cada um (o seu melhor peso) e mantê-lo”. “Façamos o nosso melhor pelos
nossos doentes, como mandam as leges artis – vamos ganhar anos de vida
e anos de vida com qualidade, acima de tudo.”, conclui a endocrinologista.